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quarta-feira, 14 de março de 2012

O mito de Psyque

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Um rei tinha três belas filhas. Psiquê, a mais jovem, era tão linda que seu pai declarou-a Deusa da Beleza, substituindo a antiga detentora, a deusa Afrodite. Os templos de Afrodite passaram a ficar vazios porque as pessoas, principalmente os homens, passaram a cultuar aquela linda princesa.
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Ofendida, Afrodite decidiu provar que Psiquê era uma simples mortal e enviou seu filho Eros para matá-la e recuperar as atenções.
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Ao anoitecer, Eros chegou ao palácio onde dormia Psiquê, armado com arco e flecha e um poderoso veneno. Aproximou-se dela para administrar o veneno, mas a luz da lua iluminou o rosto da jovem e revelou toda sua beleza. Surpreso, Eros retrocedeu e, sem perceber, uma das flechas que portava rasgou sua própria pele e causou uma pequena ferida. Inconsciente da gravidade de seu ferimento, Eros continuou contemplando a jovem que dormia e depois saiu, jurando que nunca lhe faria mal algum.
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No dia seguinte, Afrodite viu que Psiquê passeava pelo jardim e lastimou que o plano tivesse falhado. A partir de então Afrodite passou a perseguir e atormentar a jovem.
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Todos os homens que ficavam enfeitiçados com a beleza de Psiquê não se aproximavam e nem tentavam namorá-la. A família ficou preocupada com a solidão da jovem. Então, um dia, o pai resolveu perguntar ao oráculo de Apolo o que deveria fazer para a menina arranjar um marido. O que ele não sabia é que Eros já havia pedido ajuda a Apolo. A resposta que o rei levou para casa o deixou muito mais preocupado do que já estava: o deus falou que Psiquê deveria ser vestida de luto e abandonada no alto de uma montanha. Isso foi feito e a princesa foi largada triste e sozinha no meio da floresta de uma montanha.
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Eros, angustiado com a tristeza de Psique, pede a Zéfiro, o vento do Sul, para carregar a amada até uma ilha distante, enquanto ela dormia. Ali, Psiquê acorda e se vê diante de um grande palácio com pilares de ouro, paredes de prata e chão de pedras preciosas e com as portas abertas para recebê-la.
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Ao passar pela porta ouviu vozes que diziam assim: "Entre, tome um banho e descanse. Daqui a pouco será servido o jantar. Essa casa é sua e nós seremos seus servos. Faremos tudo o que a senhora desejar". Ela ficou surpresa. Esperava algo terrível, um destino pior que a morte e agora era dona de um palácio encantado. Só uma coisa a incomodava: ela estava completamente sozinha. Aquelas vozes eram só vozes, vinham do ar.
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Ao anoitecer, a Terra se cobriu de negro e Eros foi ao encontro da jovem e declarou seu amor.
Psiquê não conseguia distinguir as formas de seu enamorado, mas aceitou casar-se com ele. Eros pediu que ela não tentasse descobrir seu nome ou ver seu rosto, pois se assim não o fizesse ele teria que partir e nunca regressar.
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A solidão terminava à noite, na escuridão, quando o marido chegava. E a presença dele era tão deliciosa que Psiquê, embora não o visse, tinha certeza de que não se tratava de nenhum monstro horroroso.
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A partir de então sua vida ficou assim: luxo, solidão e vozes que faziam suas vontades durante o dia e, à noite, amor. Acontece que a proibição de ver o rosto do marido a intrigava. E a inquietação aumentou mais ainda quando o misterioso companheiro avisou que ela não deveria encontrar sua família nunca mais. Caso contrário, coisas terríveis iam começar a acontecer.
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Ela não se conformou com isso e, na noite seguinte, implorou a permissão para ver pelo menos as irmãs. Contrariado, mas com pena da esposa, ele acabou concordando. Assim, durante o dia, quando ele estava longe, as irmãs foram trazidas da montanha pela brisa e comeram um banquete no palácio. Só que o marido estava certo, a alegria que as duas sentiram pelo reencontro logo se transformou em inveja e elas voltaram para casa pensando em um jeito de acabar com a sorte da irmã.
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Nessa mesma noite, no palácio, aconteceu uma discussão. O marido pediu para Psiquê não receber mais a visita das irmãs e ela, que não tinha percebido seus olhares maldosos, se rebelou, já estava proibida de ver o rosto dele e agora ele queria impedi-la de ver até mesmo as irmãs?
Novamente, ele acabou cedendo e no dia seguinte as pérfidas foram convidadas para ir ao palácio de novo. Mas dessa vez elas apareceram com um plano já arquitetado. Invejosas da beleza de Psiquê, as irmãs a convenceram de que o jovem seria um monstro, tão terrível que não queria ser visto, e que se não tivesse cuidado a devoraria. Então a aconselharam a levar uma lamparina e uma adaga, para poder vê-lo e, se fosse um monstro, matá-lo.
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Psiquê torna a encontrar Eros na noite seguinte e, quando este adormece, ela acendeu a lamparina e empunha a adaga, aproximando-se do amante. A luz ilumina o rosto e a forma de um belo jovem. Tão emocionada ficou Psiquê que não percebeu quando uma gota de óleo caiu sobre o ombro de Eros que o fez despertar imediatamente. Eros pegou seu arco e as flechas e olhou uma vez mais para Psiquê, saindo triste pela janela e, em despedida, exclamou que não havia amor sem confiança.
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Logo depois, uma tempestade cai sobre o palácio e Psiquê sai assustada, e perde os sentidos. Quando desperta, o sol havia saído, e o palácio e os jardins tinham desaparecido. Chorando de arrependimento, Psiquê seguiu esperando o regresso de Eros. Fora de si, Psiquê primeiro tentou se afogar, mas o rio jogou-a de volta à margem; depois, desesperada, começou a andar de cidade em cidade, à procura do marido. Encontrou várias divindades em sua peregrinação (, Deméter, Hera) e, por fim, encontra-se com Pan e Ceres e conta sua história. Ceres tinha visto Afrodite curando a ferida no ombro de Eros. Aconselhou Psiquê que fosse encontrar a Deusa da Beleza e que se colocasse a seu serviço, realizando todas as tarefas que ordenasse para tentar uma reconciliação.
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Chegou ao palácio de Afrodite. A deusa - ainda enciumada e enraivecida - pois havia sido enganada pelo próprio filho. Ao ouvir as intenções de Psiquê, Afrodite gargalhou e respondeu que, para recuperar o amor dele, ela teria que passar por quatro provas.
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Em seguida, pegou uma grande quantidade de trigo, milho, papoula e muitos outros grãos e misturou. Até o fim do dia, Psiquê teria que separar tudo aquilo. Era impossível e ela já estava convencida de seu fracasso quando centenas de formigas resolveram ajudá-la e fizeram todo o trabalho.
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Surpresa e nervosa por ver aquela tarefa cumprida, a deusa fez um pedido ainda mais difícil: queria que Psiquê trouxesse um pouco de lã de ouro de umas ovelhas ferozes. Percebendo que ia ser trucidada, ela já estava pensando em se afogar no rio quando foi aconselhada por um caniço (uma planta parecida com um bambu) a esperar o sol se pôr e as ovelhas partirem para recolher a lã que ficasse presa nos arbustos. Deu certo, mas no dia seguinte uma nova missão a esperava.
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Agora Psiquê teria que recolher em um jarro de cristal um pouco da água negra que saía de uma nascente que ficava no alto de uns penhascos. Com o jarro na mão, ela foi caminhando em direção aos rochedos, mas logo se deu conta de que escalar aquilo seria o seu fim. Mais uma vez, conseguiu uma ajuda inesperada: uma águia apareceu, tirou o jarro de suas mãos e logo voltou com ele bem cheio de água negra.
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Mas a última e a pior tarefa ainda estava por vir. Afrodite dessa vez pediu a Psiquê que fosse até o inferno - reino de Hades - e trouxesse para ela uma caixinha com a beleza imortal – segredo guardado por Perséfone. Desta vez, uma torre lhe deu orientações de como deveria agir, e, desta forma, ela conseguiu trazer a encomenda. Tudo já estava próximo do fim quando veio a tentação de pegar um pouco da beleza imortal para tornar-se mais encantadora para Eros. Ela abriu a caixa e dali saiu um sono profundo, que em poucos segundos a fez tombar adormecida.
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A história acabaria assim se o amor não fosse correspondido. Por sorte Eros também estava apaixonado e desesperado. Ele tinha ido pedir a Zeus, o deus dos deuses, que fizesse sua mãe parar com aquilo para que eles pudessem ficar juntos. Zeus então reuniu a assembléia dos deuses (que incluía Afrodite) e anunciou que Eros e Psiquê iriam se casar no Olimpo e ela se tornaria uma deusa. Eros beijou Psiquê e a acordou do sono profundo. Afrodite aceitou a união do filho com a princesa porque, percebendo que a nora iria viver no céu, ocupada com o marido e os filhos, os homens voltariam a cultuá-la.
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Eros e Psiquê tiveram uma filha chamada Volúpia e, é claro, viveram felizes para sempre. Psiquê costuma ser simbolizada através de uma linda moça com asas de borboleta.
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Texto baseado em inúmeras leituras sobre o mito.

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